Linguagem e Comunicação

Os conceitos de comunicação e linguagem, são muitas das vezes interpretados da mesma forma, mas importa aqui por razões metodológicas, clarificar estes mesmos conceitos, desde logo assumindo que comunicação, tendo em conta a raiz etimológica da palavra significa “pôr em comum”. Puyelo e Rondal (2007), referem a este propósito que quem comunica deverá aceitar tacitamente ou não, o grupo cultural do seu interlocutor, tendo em conta o significado dos signos que compõe o vocabulário da língua, assim como as regras e uso da mesma.

De acordo com (Sim-Sim, 1998), podemos conceber a comunicação enquanto processo activo que consiste na troca de informações e envolve a codificação ou formulação, transmissão e descodificação ou compreensão, de uma mensagem entre dois, ou mais, intervenientes. Sendo a comunicação eficaz quando ambos os interlocutores dominam o mesmo código ou sistema de sinais e utilizam o canal de comunicação ajustado à situação.

Casanova et al. (2002) e Matos, Bragança e Sousa (2003), referem-se à comunicação como a competência de transmitir informação através de diversos sistemas linguísticos verbais e não verbais.

Morán (1987, p.50), apresenta um conceito mais descritivo de comunicação, segundo este autor:

“(…) comunicação é um complexo de interacções em vários níveis do interpessoal ao social que viabiliza a expressão em vários processos e níveis de troca simbólica de sistemas significativos, de veiculação ideológica dentro do universo cultural”

Deste modo afigura-se essencial referir que, segundo a American Speech and Hearing Association (ASHA) (1983, cit. in Sim-Sim, 1998, pp.22-23), a linguagem é um complexo e dinâmico sistema de símbolos convencionais que é utilizado de várias maneiras para pensar e comunicar.

Numa perspectiva linguística Tatiana-Casacu (1961 cit. in Cunha e Cintra, 2005, p.1), refere-se à linguagem enquanto processo complexo que resulta de actividade psíquica determinada pela vida social, tornando esta possível a aquisição e utilização adequada de uma língua.

Launay e Maissony (1989, p.3), referem que a linguagem poderá ser entendida enquanto função e elemento de aprendizagem, ou seja, enquanto função pelo facto dos seres falarem, constituindo-se a linguagem como um elemento necessário, considerando-se elemento de aprendizagem, pelo sistema simbólico linguístico que a criança deverá interpretar, adquirindo-o na relação com o meio.

Andrade (2008, p.13), refere a propósito do conceito de linguagem que esta se constitui como um mecanismo preferencial da comunicação, identificando-nos com a comunidade onde estamos inseridos através de um código partilhado.

De acordo com Acosta et al.(2003, p.31), podemos conceber linguagem enquanto função específica do ser humano, que se apresenta complexa ao nível do seu desenvolvimento e aquisição, estando dependente de múltiplas variáveis como o desenvolvimento cognitivo, afectivo, neuropsicológico e orgânico, tendo em conta a componente ambiental ou contextual.

A propósito da influência dos factores ecológicos, actualmente é aceite que a linguagem está inserida no contexto social e a actividade verbal dos sujeitos desenvolve-se na interacção com os outros, logo podemos afirmar que as interacções desempenham um papel preponderante na aquisição e desenvolvimento da linguagem. (Casanova et al., 2002)

Hage e Ferreira (2006), referem ser consensual que a linguagem está ligada a um dado contexto histórico, social e cultural. A linguagem enquanto processo, depende de factores biológicos, cognitivos, psicossociais e ambientais, implicando inter-relação na comunicação com os outros, envolvendo papel social, motivação e aspectos não verbais referentes à interacção, implicando capacidades metalinguísticas, ou seja, compreensão e reflexão sobre a própria língua. (Hage e Ferreira, 2006)

Puyelo e Rondal (2007), referem que a linguagem surge como um resultado da integração de diversas componentes, partindo desta premissa os autores concebem um modelo de componentes estruturais da linguagem e aspectos metalinguísticos, ou seja: – nível fonológico, relacionado com a organização dos sons, capazes de distinguir significados; – nível morfolexicológico, associado ao vocabulário do sujeito, ou seja, às palavras da língua adoptada; – nível morfossintáctico: que está associado a produção de estruturas simples e complexas, após a formulação de unidades distintivas mínimas de significado; – nível pragmático: que diz respeito às funções que influenciam o interlocutor do falante e o nível do discurso, que de acordo com os autores supramencionados, corresponde a um nível superior à própria frase, dizendo respeito a um enunciado extenso e altamente organizado.

A sustentação quanto à natureza das séries acima referenciadas baseia-se no modelo proposto por Chomsky 1981 (cit. in Puyelo e Rondal, 2007), que sugere a divisão em dois sistemas: – sistema conceptual que diria respeito ao nível semântico, incluindo os aspectos léxicos e estruturais. – sistema computacional, associado aos aspectos fonológicos e morfossintácticos acrescentando os autores (Puyelo e Rondal, 2007) o sistema socioinformativo, que incluía os níveis pragmático e de discurso.

Sim-Sim (1998), refere-se à aquisição da linguagem afirmando que esta implica a aquisição de regras ao nível do sistema, ou seja: forma, conteúdo e uso da língua.

Na tentativa de estabelecer uma visão holística da relação entre sistemas e componentes da linguagem, apresenta-se infra uma proposta de integração dos conceitos. (Sim-Sim , 1998, p.25)

“(…) No que concerne à forma, as regras adquiridas dizem respeito aos sons e respectivas combinações (fonologia), à formação e estrutura interna das palavras (morfologia) e à organização das palavras em frase (sintaxe). As regras referentes ao conteúdo (semântica) servem o significado das palavras e a interpretação das combinações de palavras. Finalmente, as regras de uso (pragmática) visam a adequação ao contexto de comunicação”

Segundo Acosta (2003), compreensão e expressão, são os dois processos implicados no processamento da informação verbal. A este propósito, Acosta (2003) e Gurgel et. al, (2010) afirmam que na avaliação de crianças em idade pré-escolar, esta divisão é habitual e útil, referindo-se habitualmente ao vocabulário expressivo e compreensivo. Conceptualizando compreensão, como processo que envolve a transformação dos sons em fala e a segmentação da cadeia sonora, procurando deste modo decifrar a mensagem. Afirmando que expressão, enquanto processo diz respeito à selecção de palavras nas suas diversas categorias, organização de elementos em frase e produção linguística no caso da linguagem oral. (Acosta, 2003)

Procurando sintetizar, de acordo com Pence e Justice (2008, p.21), a aquisição da linguagem implica a interiorização de regras específicas no que concerne ao conteúdo, uso e forma, de acordo com as diversas componentes implicadas, ou seja, fonologia, morfologia, sintaxe, semântica e pragmática.

Podendo-se considerar fonologia, como a componente que diz respeito às regras relativas aos sons e às suas combinações na sua dimensão de compreensão e expressão, este sons, designados por fonemas, são característicos de cada língua e combinados originam unidades, a que damos a designação de palavras. (Bernstein e Tiegerman-Farber, 2002,  p.6)

Para Chevrie-Muller e Narbona (2005, p.493), morfologia e sintaxe, estão relacionadas com a formação e estrutura das palavras e das suas formas em função das suas variações, associadas a género, número e conjugação, através da combinação de unidade e da organização das palavras em frase.

A componente semântica, diz respeito ao estudo do significado do léxico, às expressões e frases, à interpretação das mesmas, tendo em conta as suas categorias, relações de significado e linguagem figurativa. (Fromkin e Rodman, 1993, p.178)

De acordo com Acosta (2003, p.33), a componentes pragmática, diz respeito às características adoptadas no uso da linguagem, em contextos sociais, situacionais e comunicativos, correspondendo ao estudo de um conjunto de regras que regulam o discurso ao nível das habilidades conversacionais, compromisso conversacional e fluência, da deixis de lugar e das funções comunicativas.

Em suma, o que se pretende avaliar em linguagem, designadamente no estudo em apreço, é o conhecimento intuitivo da língua, anteriormente designado por competência linguística, avaliando in loco o desempenho de cada sujeito. (Sim-Sim, 1998, p. 25)

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